Levinas no ouvido de Lyotard
Résumé
Lyotard leu muito Levinas; foi um dos primeiros a lê-lo rigorosamente e a relação que ele estabeleceu com a obra de Levinas contou de maneira decisiva na elaboração de sua própria obra. Pode-se ficar impressionado com leitura desses textos pela vontade de Lyotard de entender, em um sentido exclusivamente, a Lei em Levinas. E ao ponto de fazer de Levinas, em relação ao que este último marcou explicitamente um desacordo, um “pensador judeu’’. Pode-se assinalar também que, consagrando um texto ao “rosto”, Lyotard não menciona uma palavra de Levinas, que ele lê, aliás, com tanta precisão. No “ouvido” de Lyotard, Levinas é só um “ouvido” convocado, obrigado. E tudo se passa como se isso implicasse colocar de lado o “olho” levinasiano. “Colocar de lado” (e será necessário precisar esse gesto) o olho – ou seja, em um sentido fenomenológico como tal; desviando-se da inscrição sensível; da “encarnação”, tanto no sentido fenomenológico quanto no sentido cristão. O “Levinas” de Lyotard não está nem do lado do “rosto” nem do lado do “amor”. Certamente, a questão da relação ao fenomenológico de um lado e a relação ao cristianismo de outro sobrepõem-se, sem no entanto coincidir de qualquer maneira que seja. Façamos a hipótese de que essa leitura “radicalizada” e, em um sentido, mutilante do pensamento levinasiano, também esclarecedora, permite entender alguma coisa dos desafios desse pensamento que não se entenderia de outro modo. Palavras-chave: Levinas, Lyotard, Fenomenologia, Ética.